Mauá no ritmo do samba: dos carnavais das ruas aos dos salões até os desfiles das escolas na Avenida Portugal

Por Daniel Alcarria 25/03/2019 - 16:44 hs

A pesquisa e o estudo da história das manifestações culturais de Mauá pouco ou quase nada reservaram às apresentações carnavalescas, conforme observado nas principais obras historiográficas da cidade. Tal constatação por sua vez indica possíveis traços de preconceito e desinteresse; as questões de alinhamento político entre os grupos envolvidos nas disputas eleitorais também atingiram o carnaval e consequentemente, as escolas de samba da cidade, sempre presentes nesses processos. 

Todavia, acima de todas essas contendas político-eleitorais, o carnaval enquanto manifestação cultural sempre esteve presente no seio de nossa sociedade mauaense. Certo mesmo é que a “cuíca roncou” pela região desde a época do antigo Pilar, perpassando pelos bailes carnavalescos dos badalados salões dos clubes das indústrias das porcelanas como a Real e a Mauá, além do Independente e do Industrial, até chegar aos desfiles das escolas de samba, desde o período em que as agremiações e blocos desfilavam com seus carros alegóricos na Avenida Capitão João e depois, na Avenida Portugal.    

Os pioneiros carnavais 

Não são conhecidas durante praticamente todo o período anterior ao século XX no Distrito de Pilar, depois cidade de Mauá, qualquer tipo de manifestação ou festividade popular que não fosse atrelado à igreja católica e as temáticas sacras, lembrando que mesmo o carnaval (e sua condição de festa pagã conforme o cristianismo), tem sua origem ligada ao processo religioso.

Conforme observações colhidas das escassas fontes disponíveis sobre a temática do carnaval mauaense, no período que a cidade foi transformada em “Capital Nacional da Porcelana Fina”, os festejos carnavalescos tinham suas maiores atrações nas vias públicas, com desfiles de carros alegóricos, blocos, cordões uniformizados, máscaras e fantasias. Um desses festejos carnavalescos de rua ocorreu em 1957, sendo amplamente divulgado pelo jornal Folha de Mauá[1]: 

...“tivemos em Mauá um pequeno Carnaval de rua, nada de extraordinário é verdade... Mas foi algo diferente, que trouxe um pouco de alegria para aqueles que não frequentam salões e que se divertem apreciando o Carnaval de rua. Nossa cidade pode contar neste ano com a visita de Sua Majestade o Rei Momo primeiro e único, em um carro alegórico em forma de um barco, ornamentado por princesas caracterizadas, uma Escola de Samba e Baliza. Naquela oportunidade, ao desembarcar na estação, foi transportado pelas ruas da cidade através de carro alegórico. O prefeito Ennio Brancallion recebeu o momo na Prefeitura e entregou-lhe, entre vivas e aplausos do público, a chave da cidade” (p. 5). 

Conforme citado, além da rua ficaram famosos os bailes de carnaval dos clubes mauaenses (muitos deles ligados a indústria da porcelana). O próprio carnaval de rua de 1957 teve seu ápice e encerramento na AE Porcelana Real, o que rendeu para a agremiação o título de "pioneira" do Carnaval de rua de nossa cidade. 

As escolas, os desfiles, a UESMA 

Com o crescimento demográfico da cidade, foram surgindo as primeiras escolas de samba de Mauá, que por sua vez foram responsáveis, ainda em finais dos anos 1960 e meados da década de 1970, pelos primeiros desfiles e disputas entre escolas e blocos carnavalescos. A mais antiga delas, a Ordem e Progresso (do Jardim Zaíra) foi fundada em 1957, tendo vencido o carnaval de 1982. Em 1981 surgiu a Escola de samba Beira Rio, no Parque São Vicente e em seu primeiro desfile a agremiação conquistou o título de campeã na categoria bloco. O ponto alto da existência da Beira Rio foi no ano de 1996, cujo samba “Em busca da felicidade” foi cantado por José Bispo Clementino, o “Jamelão da Mangueira”, então com 82 anos. Jamelão desfilou sua categoria na Avenida Portugal para alegria dos foliões de Mauá. 

Dentre as escolas de samba mauaense, uma das mais tradicionais é a Acadêmicos do São João. Dez vezes campeã do carnaval da cidade, essa escola de samba foi fundada no dia 15 de novembro de 1974, e teve como seu primeiro presidente o popular “Teixeirinha”. O pioneiro desfile do verde, branco e rosa ocorreu em 1975, quando os foliões desfilaram pelas ruas do Jardim Itapeva. Depois, os títulos em 1977, 1978, 1979, 1985, 1986, 1987, 1988, 1989, 1991 e 2006 que fizeram dessa agremiação a mais vitoriosa do carnaval local. 

Outras importantes escolas de samba também foram surgindo, dando assim importante contribuição para o carnaval mauaense. Jardim Anchieta, União Independente, Nova Era, Império do Jardim Oratório, Mocidade Independente do Zaíra, Leões de Ouro, Tradição da Unidos Imperial, Unidos do Sonia Maria, Flor do Morro, União da Vila, etc. A escola Unidos do Silvia Maria foi tri-campeã em 1993, 1994 e 1995. Em 2015, a escola Nova Era foi a campeã. Entre 1997 e 2004, os desfiles foram suspensos pela administração. 

Nos anos 1980 os desfiles das escolas de Samba ocorriam na Avenida Capitão João, onde hoje está localizado o boulevard. A partir da década de 1990, o Carnaval mauaense que chegou a receber mais de cem mil pessoas em seus desfiles, começou a ser realizado na tradicional passarela da Avenida Portugal. 

A União das Escolas de Samba de Mauá (UESMA) surgiu em 21 de janeiro de 1993 para representar os interesses das entidades carnavalescas da cidade e luta, ainda hoje, por melhores dias para o carnaval mauaense, outrora admirado e reconhecido como dos melhores da região. Que rufem os tambores pelo retorno dessa tradicional festa do povo.


[1] Jornal FOLHA DE Mauá- Edição nº 202 de 23 de março de 1957.