HISTÓRIA & MEMÓRIA: NOSSA MAUÁ ONTEM E HOJE

OS SÍMBOLOS QUE MARCAM A CIDADE

Por Daniel Alcarria 17/09/2019 - 10:24 hs
HISTÓRIA & MEMÓRIA: NOSSA MAUÁ ONTEM E HOJE
Foto da antiga estação ferroviária de Mauá na década de 1940

 

Por Daniel Alcarria*

Nesta edição de Sucesso vamos abordar sobre os símbolos de nossa cidade, daqueles lugares e construções que definem resumidamente a história social de Mauá, espaços cujo recorte temporal se misturam entre um passado pré-pilariano em contraste com as modernas edificações contemporâneas. Claro que essa seleção de “lugares e construções” é de caráter pessoal, que remontam a uma memória afetiva de apenas um sujeito no enorme complexo de pessoas que compõem a Mauá deste início de século XXI.   

Os espaços selecionados pelo autor simbolizam a própria existência da cidade desde seus pioneiros dias, desde a época das fazendas e dos matagais cuja sede fez surgir a Casa Bandeirista (que hoje abriga o Museu Barão de Mauá) nos primeiros anos do século XVIII, passando pelos símbolos do desenvolvimento e depois, da emancipação e modernização da cidade.

Os espaços-símbolo representam as movimentações das sociedades em seus ciclos econômicos, políticos, sociais e culturais, apresentando-se dessa maneira como uma síntese histórica da cidade em seus mais distintos aspectos. Abaixo a seleção desses espaços:

1-Museu Barão de Mauá

Trata-se da mais antiga edificação da cidade, construída durante os primeiros anos do século XVIII. Tombado como Patrimônio estadual em 1983 e depois como patrimônio municipal, a casa abriga atualmente o Museu Barão de Mauá e situa-se em péssimas condições devido à falta de manutenção e restauro. A mais recente restauração ocorreu em 2000.

2-Estação Ferroviária

A ferrovia representou o marco decisivo para o pleno desenvolvimento da região que hoje conhecemos como “ABC Paulista”. Como citado em edições anteriores, o distrito do Pilar (depois de 1926, Mauá) era uma pequena comunidade composta por menos de 800 “almas”. A partir de 1º de abril de 1883, quando é inaugurada a estação ferroviária do Pilar, a cidade que conhecemos hoje dá importante salto econômico e conhece um processo de desenvolvimento econômico que ainda hoje pode ser observada.

3-Igreja Matriz Imaculada Conceição

Antes do surgimento da atual Igreja Matriz Imaculada Conceição, outras pequenas capelas foram erigidas para contemplar as atividades religiosas da população local. A primeira delas ficava na esquina entre a atual Avenida da Saudade e a Avenida Capitão João. O local hoje comporta uma academia de artes marciais, embaixo do viaduto “Prefeito Elio Bernardi”.

A pedra fundamental de lançamento da nova igreja, a atual Matriz, ocorreu em 04 de julho de 1944, num domingo de Ramos. Em 9 de março de 1952 é celebrada a primeira missa e em 29 de maio de 1954 é oficializada a constituição da Paróquia Imaculada Conceição tendo como seu primeiro vigário o Padre Miguel Negri seguido do padre Aleksandras Venâncio Arminas

4-Pedra de 1925

Enigmático símbolo de nossa cidade, a despercebida “Pedra de 1925” localizada na atual Avenida Capitão João em frente à Praça Conde Francisco Matarazzo, próximo ao Paço municipal, podemos afirmar que o marco é remanescente da construção da estrada que ligava Santo André a Ribeirão Pires. Em estrutura de pedra, contém a inscrição 1925, ano da construção da galeria contra enchente e da demarcação a partir da qual a estrada prosseguiu de Pilar até Ribeirão Pires, de acordo com estudos do Condephaat-Ma e com a documentação consultada.

5- Casa dos Emancipacionistas

Outra edificação que merece aprofundamento de estudos é o imóvel localizado na Praça 22 de Novembro, no centro da cidade. Ao lado da agência local dos Correios, a edificação teria servido como espaço para reuniões de grupos ligados à causa emancipacionista no final dos anos 1940 e início dos 50. O espaço serviu até os anos 2000 como sede do Procon, sendo desativada tempo depois. Atualmente encontra-se abandonada, sendo alvo de depredação e da especulação imobiliária. 

6-Capela da Santa Casa

Considerado por especialistas como a “Capela Sistina” brasileira, a capela Cristo-Rei, inserida no interior da Santa Casa de Mauá, abriga 23 afrescos do artista plástico romeno Emeric Marcier, refugiado no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial. Alguns são pintados a óleo e outros em têmpera. Os painéis ocupam todas as paredes e o teto da capela, cujo trabalho levou dois anos para ser concluído. Ele começou a pintar a capela em 1943 e no conjunto de afrescos o artista representou passagens bíblicas, entre elas, a ascensão de Jesus Cristo, a Torre de Babel, os sacrifícios ao bezerro de ouro e a divisão do Mar Vermelho. As marcas da guerra também estão representadas nos afrescos. A capela serviu como colônia de férias para membros da JOC (Juventude Operária Católica), sendo ainda raro exemplar com influência da arquitetura gótica na cidade de Mauá.

7-Paineira Central

Segundo o site da prefeitura, “a área onde foi plantada a árvore símbolo de Mauá pertenceu a chácara de Luis Merloni, vendida em 1934 para André Magini. A casa sede, alugada pelo Governo Estadual, recebeu a primeira escola pública municipal, inaugurada em 13 de agosto de 1935, chamada Grupo Escolar de Mauá. Demolido em 1978, só restou a paineira como referência histórica”. Sua localização fica na confluência da Avenida Barão de Mauá com a rua prefeito Ennio Brancalion. Sob sua sombra, a árvore teria presenciado a fundação do Independente FC em 1945, reuniões políticas entre os anos 1950 até os anos 1980 até encontros entre animados jovens namorados dos tempos passados.

8-Parque da Gruta

Primeiro parque natural a surgir em Mauá, o parque da Gruta de Santa Luzia, onde está localizada a nascente do Rio Tamanduateí, teve sua criação efetivada no início de 1974. Em 1992, o então Parque da Gruta recebeu a denominação de “Parque Ecológico de Mauá”, cuja área verde do Parque Municipal de Gruta a partir de então foi considerada intocável para manutenção do ecossistema local. É considerado como um dos símbolos da cidade.

Os outros símbolos que destaco como referenciais de nossa identidade local: estádio Municipal de Mauá “Pedro Benedetti”, cujo projeto de construção é datado de 1962 e sua inauguração em 08 de dezembro de 1984, numa partida histórica entre Grêmio Mauaense e São Paulo FC, O Parque do Guapituba “Alfredo Kinklert Junior”, inaugurado em 1995, o Teatro Municipal de Mauá, de 2001, o Ginásio de Esportes “Prefeito Celso Daniel” (2004) e o prédio da secretaria da Educação, projetado em 2003 e inaugurado em 2009. 

Referências bibliográficas:

MEDICI, Ademir. De Pilar a Mauá. Prefeitura Municipal de Mauá, 1986.

SALA, Dalton. Guia das Casas Bandeiristas. LaserPrint, 2008.

Site: http://www.maua.sp.gov.br/CondephaatMA/Tombados.aspx. Acesso em: 10 nov. 2016.

 (*) Jornalista e Historiador. Membro do Memofut (Grupo de Literatura e Memoria do Futebol), é autor do Almanaque do Futebol de Ribeirão Pires e do Almanaque Histórico do Grêmio Esportivo Mauaense.