Coronavírus x classe artística

Por Marcelo Balvian 31/07/2020 - 11:15 hs

 

Como pode um vírus ter tido um efeito tão devastador, fazendo com que as pessoas no mundo todo não pudessem exercer plenamente um dos direitos mais básicos do ser humano, o de “ir e vir”? O coronavírus mudou completamente as nossas vidas e hábitos nos últimos meses e tem sido um desafio para muitas pessoas, sobretudo para nós, da classe artística, bastante afetada com esta situação indesejável. 

Com o desenvolvimento da pandemia, acabamos sendo os primeiros a parar de trabalhar e, quando tudo se normalizar, seremos os últimos a voltar a atuar normalmente. E sabe-se lá quando isso vai acontecer, pois mesmo que o processo de flexibilização das últimas semanas traga resultados, muitos de nossos contratantes não terão condições de nos empregar em seus espaços, pois a receita arrecadada muita vezes mal consegue suprir suas despesas. 

É verdade que diante deste novo cenário tivemos que nos reinventar e quebrar alguns tabus. Evoluímos nossos conhecimentos digitais e, como não poderíamos ficar longe do que mais gostamos, começamos a realizar apresentações pela internet, nas famosas “Lives”, como forma de continuarmos sobrevivendo. Entretanto, mesmo nesta nova modalidade, pudemos perceber o quanto há de desigualdade em nosso meio. 

Nesse período, o grande público encontrou um novo atrativo, mesmo ficando em casa, ao assistir seus cantores e artistas favoritos em suas próprias Lives, cheias de produção e patrocinadores e que foram um enorme sucesso. Porém, a realidade de muitos artistas menos conhecidos tem sido totalmente diferente. Muitos músicos, como eu, precisaram realizar essas apresentações digitais com cachê solidário e de forma bastante simples, contando com alguns apoiadores e também com a solidariedade de nossos amigos e fãs, para utilizá-las como ferramenta de trabalho. 

Claro que, no meio disso tudo, conseguimos usar a criatividade. Para o meu público, propus o “Desafio da Quarentena”, onde eu produzia um vídeo individual para cada seguidor que me fazia um pedido. Vídeos personalizados para datas comemorativas também foram uma boa sacada. 

E algumas boas iniciativas também surgiram. Os editais realizados pela Secretaria Municipal de Cultura para projetos culturais, dentro deles o PROAC Municipal, FAFC e agora a Lei de emergência cultural Aldir Blanc, sancionada em 29 de junho, são ações que garantem mais benefícios para a classe. 

Assim, vamos vendo 2020 passar, usando a criatividade e dependendo de um auxílio emergencial do governo, que é dado como uma gorjeta, pois nunca sabemos quando iremos receber, de doações de amigos e sempre tirando um coelho da cartola para vencer a crise. Mas quanto tudo passar, tenho certeza de que seremos seres humanos melhores, pois assim como eu, vi muitos artistas utilizando suas apresentações para arrecadar alimentos e produtos de higiene pessoal, e doando àqueles que precisam mais que nós. 

A Covid-19 veio para mostrar que neste momento somos todos iguais, mesmo com a desigualdade social. 

Aproveite e reflita sobre este refrão da música “Trem Bala”, de Ana Vilela. 

“Segura teu filho no colo

Sorria e abraça os teus pais enquanto estão aqui

Que a vida é trem-bala, parceiro

E a gente é só passageiro prestes a partir”. 

Não saia de casa, use a máscara, lave as mãos, use o álcool gel e respeite o distanciamento. Prevenir em primeiro lugar.