HISTÓRIA & MEMÓRIA: NOSSA MAUÁ ONTEM E HOJE

Emancipação e formação territorial

Por Daniel Alcarria 31/07/2020 - 12:14 hs
HISTÓRIA & MEMÓRIA: NOSSA MAUÁ ONTEM E HOJE
O antigo caminho para o Sônia Maria, atual Avenida Ayrton Senna da Silva; três cidades se encontram

Por Daniel Alcarria

 

Os processos políticos e econômicos que levaram à emancipação de Mauá e sua transformação em município autônomo a partir do vitorioso plebiscito de 22 de novembro de 1953 foram abordados em diversas oportunidades em nossas colunas e também, em cujas obras nos são ofertadas como referências, nos clássicos livros de Ademir Medici, William Puntschart e outros historiadores. Mas para além das reivindicações dos mauaenses por melhorias e depois, por sua autonomia, esses processos também levaram por definir nossas áreas limítrofes com os demais municípios e consequentemente, as dimensões físico-territoriais da cidade que conhecemos hoje.

A grande cidade que temos na atualidade originara-se no território antes ocupado por tribos Guaianazes e Tupiniquins, denominado posteriormente de “Cassaquera”. Nesse território, três grandes fazendas: Bocaina, Oratório e a fazenda do Capitão João; a casa bandeirista, que hoje abriga o Museu Barão de Mauá, era a referência da Fazenda Bocaina. A população por sua vez, não passava de meia dúzia d’almas dispersas naquele enorme território.

A ocupação territorial e a definição dos limites      

A ocupação humana do território em que está localizado a cidade ocorreu de forma lenta até o início dos anos 1950, quando a partir de então, com o crescimento industrial e a consequente demanda por mão de obra, Mauá conheceu um aumento substancial de sua demografia, trazendo consigo os problemas inerentes à maneira desordenada adotada como modelo de desenvolvimento. Essa ocupação foi redesenhando o mapa da cidade, pressionando inclusive na definição de suas linhas limítrofes com os outros municípios.

O território antes coberto por densa floresta de mata atlântica foi abrindo espaço para olarias, pedreiras, indústrias, campos, igrejas, bairros, ruas e avenidas; a população que era de aproximadamente 2000 pessoas em 1940 saltou para mais de 200 mil habitantes cinquenta anos depois. Crescendo e ocupando as áreas limites, mais distantes do centro, como as que hoje fazem divisa em vários pontos das “fronteiras” com as cidades de Ribeirão Pires, Santo André e São Paulo, muitas das quais ainda em situação geográfica indefinida, como no caso de área próxima à Avenida Cidade de Mauá, que consta como Mauá mas tributado pelo município de São Paulo.

Reação de Santo André e a fronteira que não foi

O grande município vizinho relutou em aceitar perder mais um de seus distritos (como ocorrera com São Bernardo e São Caetano pouco antes), esforçando-se de todas as formas para impedir que Mauá obtivesse sua autonomia. Logo após a vitória do Sim! a favor da emancipação, Santo André entrou com recurso no STF (Supremo Tribunal Federal) contra o plebiscito e a lei que legalizava a criação de novos municípios. Mas não teve jeito, a decisão foi mantida e o grande ABC ganhava mais um município.

Todavia, a “Pavlistarvm Terra Mater” Santo André esforçou-se em diminuir a perda total do ex-distrito, utilizando-se de sua força e influência para manter parte do território. Quando das tratativas para o estabelecimento das linhas divisórias entre os municípios, uma manobra do então prefeito santoandreense Antonio Flaquer garantiu que sua cidade mantivesse uma área que originalmente deveria pertencer a Mauá (localizada onde hoje é o Viaduto Cassaquera e a empresa Pirelli).

A “Terra da Porcelana” ainda tentaria, em vão, recuperar o território perdido para Santo André através de pressões políticas junto aos órgãos estaduais, mas a divisa de Mauá com seu vizinho, que deveria ser no Ribeirão Cassaquera, próxima do viaduto, teve como referência geográfica o Rio Itrapoã, definindo assim uma disputa territorial que rendeu ao vizinho município mais alguns metros em sua extensão e recursos tributários advindos das grandes empresas ali instaladas.      

(*) Jornalista e Historiador.

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Referências bibliográficas:

MEDICI, Ademir. De Pilar a Mauá. Prefeitura do Município de Mauá, 1986.

PUNTSCHART, William. Mauá: Entendendo o passado, trabalhando o presente e construindo o futuro. São Paulo: Editora Noovha América, 2012.