Professor critica projeto de novo Estatuto do Magistério que pode criar supersalários para supervisores de ensino de Mauá

Por Portal Opinião Pública 07/11/2019 - 09:11 hs
Foto: Roberto Mourão - PMM / Divulgação
Professor critica projeto de novo Estatuto do Magistério que pode criar supersalários para supervisores de ensino de Mauá
Segundo denúncia do professor Frank de Mello, grande disparidade entre salários de supervisores

O professor Frank de Mello utilizou a Tribuna Livre, durante a sessão ordinária da Câmara Municipal de Mauá na última terça-feira (5), para criticar o Projeto de Lei Complementar 4/2019, de autoria do Poder Executivo, que estabelece o Estatuto do Magistério e o Quadro de Apoio ao Magistério de Mauá. De acordo com o munícipe, a propositura pode criar supersalários para os supervisores das escolas públicas municipais.

Iniciando sua fala no plenário, o ex-gerente de RH da Secretaria de Educação destacou que o estatuto possui pontos positivos em sua elaboração, como o fato de atender a uma reivindicação antiga dos ADI’s (Auxiliares de Desenvolvimento Infantil), sobre sua jornada de trabalho; atender também aos pedidos dos professores quanto a revisão da licença prêmio; além de realizar uma adequação do magistério de Mauá à Lei do piso e de abrir possibilidade para a realização de concursos públicos para os cargos de ADI, professor e diretor. No entanto, ele avaliou que a atual gestão precisa ter responsabilidade com o tema.

“A gente está falando de uma lei que é séria, que é importante, que tem que ter sim responsabilidade do Poder Executivo e desta Casa Legislativa porque dependendo de como isso for aprovado, esses professores que estão aqui acompanhando a gente, poderão ficar a médio e longo prazo sem salário, porque a Prefeitura não vai suportar essa carga no seu orçamento”, pontuou.

Na sequência, o professor enfatizou que alguns pontos do estatuto precisam ser revisados, pois não seriam razoáveis para a administração pública. Antes de explicar os custos extras que poderiam ser gerados com a aprovação do projeto, porém, o professor criticou a redação do texto, de acordo com ele, elaborado por dois supervisores. “Esse estatuto, por mais que falem que ele foi discutido com a classe do magistério, não é bem verdade. Quem escreveu esse estatuto foram dois supervisores, especificamente da Secretaria de Educação. Foram eles que escreveram e embutiram alguns ‘jabutis’”, explicou.

De acordo com sua apresentação, além da política do abono de faltas – que segundo a proposta poderia aumentar as faltas abonadas dos professores ao longo do ano de seis para dez – Mello citou que o estatuto pode criar uma enorme distorção nos salários dos supervisores. Segundo ele, os dois itens gerariam um custo extra elevado para a municipalidade.

Atualmente, os funcionários públicos recebem por 30 dias de trabalho, sendo que as seis faltas abonadas por ano se referem aos meses que possuem 31 dias. Com a proposta de abonar mais quatro faltas anuais, segundo os cálculos de Mello, existe a possibilidade de que 4.800 faltas extras ocorram durante o período letivo, uma vez que a rede municipal de ensino conta com 1.200 professores. Desta forma, as 28,8 mil horas geradas por essas ausências precisariam ser compensadas com a contratação de professores substitutos, cujos vencimentos são de R$ 20 por hora, o que geraria um custo de até R$ 576 mil a mais por ano para o município.

Já em relação aos salários dos supervisores – ponto principal de suas críticas – Mello explicou que em 2017 esses profissionais foram reenquadrados, através da Lei 5255/2017, em uma nova referência na tabela que aponta a escala de vencimentos do magistério mauaense. Com isso, eles passaram a ganhar R$ 9.460,00, mais do que o dobro dos vencimentos anteriores, que somavam pouco mais de R$ 4 mil.

“A gente já tem supervisor ganhando mais do que isso”, lembrou o professor, destacando ainda que esse valor está muito acima da média do que é pago em outras localidades. “Vocês sabem qual é a média do salário de supervisor no Brasil? R$ 5 mil. Na região do ABC, R$ 7 mil. A Prefeitura de São Paulo, a mais rica do Brasil paga, no máximo, R$ 7 mil para supervisor. O de Mauá já está ganhando R$ 9.460,00 sem quinquênio, isso na primeira faixa salarial dele. A gente já tem supervisor ganhando mais do que isso”, criticou.

Mello recordou também que o atual estatuto prevê aos supervisores o pagamento de um salário maior em relação ao que é pago aos diretores de escolas. Entretanto, ele cita que os próprios supervisores decidiram essa diferença, estabelecendo-a em 30% e calculando-a não em cima do salário base, mas sim tendo como referência a maior remuneração da Secretaria, fato que ele considera grave. “O diretor hoje, em cima da referência inicial, ele vai ganhar R$ 5.207,00. Então, era em cima deste valor aqui que deveria ter sido jogado os 30% e não em cima do maior salário da Secretaria, de diretor. Tem supervisor aqui que não tinha nem passado do estado probatório ainda e já estava ganhando R$ 10 mil por mês. Ele ganhou o quinquênio daquele salário, que era maior, ele fez uso do estudo daquele professor e incorporou tudo no salário dele. E está errado”, afirmou o ex-gerente de RH da Secretaria de Educação, acrescentando que irá questionar esse aumento junto ao Ministério Público.

“Agora, é justo com os munícipes de nossa cidade, com a Secretaria de Educação, que como foi falado aqui tem escola que não tem torneira, tem escola que não tem vaso sanitário, tem escola que tem o teto caindo, a gente pagar um valor desse de salário para supervisor e onerar a Prefeitura num valor desse? Eu não vejo sentido nisso”, ponderou.

Todavia, Mello crê que caso a Lei Complementar 4/2019 seja aprovada, as disparidades irão aumentar. Para ele, mesmo com a proposta de que os supervisores de ensino mudem de referência na escala de vencimentos do magistério, o que em teoria garantiria vencimentos menores, a discrepância salarial na comparação de supervisores e os professores/diretores, seguirá sendo muito grande, ainda mais com os reajustes previstos. E ele ainda faz um alerta. “Já vou alertar para você o seguinte: já tem um grupo de supervisores com advogado contratado falando que, quando forem reenquadrados no 24-D eles vão entrar na justiça para voltar para o 27-G. E isso não é difícil de acontecer”, revelou.

Além disso, o professor aponta que essa situação fará com que a meta do PNE (Plano Nacional de Educação) – cujo objetivo é manter próximos os salários de profissionais que tenham o mesmo nível de formação – fique distante de ser atingida. No caso, tanto professores quanto supervisores precisam de formação superior em pedagogia, o que deveria manter seus vencimentos num valor mais próximo do que é hoje. Mello também prevê que os reajustes propostos no PLC resultariam em um gasto extra de mais de R$ 2 milhões.

Horas após utilizar a Tribuna Livre, o professor Frank Mello postou um vídeo em seu perfil no Facebook, novamente explicando os pontos com os quais ele concorda e discorda sobre a proposta do novo Estatuto do Magistério de Mauá.

O Jornal Opinião Pública enviou alguns questionamentos à Prefeitura de Mauá e publicará a resposta do Paço quanto ao projeto em sua próxima edição.