AI-5 nunca mais

Por Portal Opinião Pública 28/11/2019 - 13:34 hs
Foto: CPDOCJB/Folhapress

 

Durante o período eleitoral do ano passado, um dos grandes receios de parte do eleitorado com relação ao então candidato Jair Bolsonaro, que viria a vencer o pleito e se tornar o 38º presidente da nação, era seu apreço pela ditadura militar. Em vários momentos de sua carreira política, Bolsonaro revelou sua admiração por figuras que contribuíram para a implantação da ditadura na década de 1960 e pelo regime em si, ainda que em outras falas ele tenha tentado minimizar as preocupações de quem via nele alguém que poderia reimplantar tal regime no país.

O assunto ditadura esfriou logo que ele assumiu a presidência. Porém, nos últimos meses ele voltou a ser aquecido com declarações de pessoas diretamente envolvidas com o presidente. Primeiro, foi seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro – a quem Jair queria indicar para a embaixada brasileira nos Estados Unidos – dizer que “um novo AI-5 poderia ser a resposta se a esquerda radicalizar”. Tal declaração, como não poderia deixar de ser, pegou muito mal e levou a Câmara dos Deputados a instaurar dois processos disciplinares contra o parlamentar.

Mas não bastasse a desastrada declaração de seu filho, Bolsonaro ainda teve de ouvir seu braço direito, o ministro da Economia Paulo Guedes, voltar a fazer ameaças, rememorando o AI-5 (Ato Institucional número 5, emitido pelo então presidente Artur da Costa e Silva em 1968 que culminou com a perda de mandatos de parlamentares contrários aos militares, além de outras medidas) durante uma entrevista coletiva em Washington.

O fato é que, em pleno 2019, é incompreensível que algumas figuras não apenas falem abertamente sobre implantar um “novo AI-5”, indo na contramão do que é visto em todo o mundo, como utilizem um fato tão controverso na história do país para ameaçar adversários políticos. São pessoas que parecem (ou fazem questão de) esquecer quantas lutas ocorreram no Brasil para derrubar um regime ditatorial e oportunizar à própria população a escolher seus representantes. Inclusive, tanto o atual presidente quanto seu filho deputado federal só estão onde estão por conta das manifestações que garantiram o retorno da democracia ao país.

Aliás, também é estranho que essas mesmas figuras condenem o regime ditatorial de outros países, enquanto ao mesmo tempo não se fazem de rogados ao lembrar da ditadura militar no Brasil. Incoerência total.

É necessário que essas pessoas ligadas ao governo que gostam de relembrar o AI-5 ou o período ditatorial, realmente se concentrem em trabalhar para aquilo que foram eleitas ou escolhidas, ou seja, buscar melhorar a situação do país.