HISTÓRIA & MEMÓRIA: NOSSA MAUÁ ONTEM E HOJE

Mauá e o movimento estudantil: cultura, política e história da participação juvenil na vida da cidade

Por Daniel Alcarria 16/06/2021 - 10:00 hs
HISTÓRIA & MEMÓRIA: NOSSA MAUÁ ONTEM E HOJE
As grandes passeatas estudantis sempre fizeram parte da história da juventude mauaense

* Por Daniel Alcarria

Não é de hoje que o ABC paulista tem desempenhado papel historicamente importante, seja como palco das lutas e movimentos ou na formação de líderes, protagonistas das organizações populares que marcaram e continuam a marcar época na história recente do Brasil. A resistência à ditadura, as greves operárias do final dos anos 1970, as passeatas estudantis, movimentos e categorias diversas dentre tantas outras demonstram essa efetiva participação política dos povos da região. 

Em Mauá não é diferente, pois desde o início do século passado já eram registrados pelas bandas do ‘Pilar’ greves e movimentos organizados pelos jovens trabalhadores das pedreiras. Esse protagonismo juvenil também impulsionou o surgimento de clubes, jornais, grupos de teatro e do próprio movimento que culminou com a autonomia política de Mauá. Em particular, o movimento estudantil também deu sua contribuição para a construção desse histórico de combatividade que caracteriza a cidade. 

Os primeiros movimentos e a UNIME 

Depois das escolas itinerantes e mistas do início do século passado, foi a então “Escola da Paineira” a principal referência educacional da cidade. Ela foi denominada Grupo Escolar de Mauá a partir de 1935, transformando-se em 1947 no Grupo Escolar Visconde de Mauá. A partir dessa escola seriam registradas as primeiras manifestações estudantis do futuro município. 

Em 27 de maio de 1957 é fundado no Visconde de Mauá o Grêmio Estudantil XI de Março, a primeira entidade estudantil local. Apesar de ter suas atividades encerradas em 1960, vários de seus membros do grêmio ajudaram na formação da União Municipal dos Estudantes de Mauá, a UNIME, em 1964. 

Precursora da UMES (União Municipal dos Estudantes Secundaristas de Mauá, fundada em 1989), a UNIME (União Municipal de Estudantes de Mauá) foi resultado da experiência do grêmio do Visconde de Mauá e surgiu entre o final de 1963 e o início de 1964; a posse oficial da 1º Diretoria se deu no dia 19 de fevereiro de 1964, na Câmara, tendo Antonio Paulino Pinto Nazário como seu primeiro e único presidente. Com a ditadura instalada a partir de 31 de malo de 1964, as entidades estudantis sofreram profundo golpe e a UNIME, desativada. 
  

Antes, em maio de 1963, descontentes com o abandono que a escola sofria, estudantes do Visconde de Mauá iniciaram protestos por sua reforma e ampliação. Em 26 de agosto de 1963 realizaram um grande protesto, com greve marcada para 02 de setembro, resultando no ‘movimento paredista’. A greve e o próprio movimento em si receberam a denominação de Movimento Paredista pelo desejo manifestado pelos alunos em construir uma parede de bloqueio na entrada da escola para impedir a entrada de pessoas no prédio.

Movimento estudantil pós-ditadura e o Fora Collor
 

A campanha das Diretas e os processos que levaram à redemocratização do Brasil trouxeram novamente os estudantes para a vida política nacional. Em Mauá, entre os anos de 1985 até 1989, surgiriam os primeiros grêmios de estudantes nas escolas estaduais, responsáveis tempos depois pela reorganização do movimento estudantil mauaense. 

Depois da UNIME em 1963/64, o movimento estudantil reorganizou-se com a comissão pró-UMES em 1989. Em setembro do ano seguinte, a União Municipal dos Estudantes Secundaristas é fundada oficialmente com a realização de seu I Congresso nos dias 22 e 23 de setembro de 1990. João Carlos Favaro foi eleito presidente. Passeatas contra a municipalização do ensino e pelo passe livre ocorreram em diversas oportunidades nos anos 1990. 

Em 1991 e 1992 surgiria o movimento dos ‘caras-pintadas’, culminando com o Impeachment de Collor. Os estudantes de Mauá realizaram diversas manifestações pela derrocada de Collor e a UMES local, responsável pela pioneira manifestação oficial em defesa do impeachment registrada no Brasil. As passeatas pelo Impeachment escreveram importantes páginas na história do movimento estudantil na região do ABC paulista. 

A cidade recebeu em junho de 1996 o Congresso de reconstrução da UPES, entidade estadual de representação estudantil. Com apoio da prefeitura de Mauá e a presença de mais de mil e quinhentos estudantes, a reconstrução da UPES foi símbolo e ápice da organização do movimento estudantil secundarista na região do ABC paulista dos anos 90. 

O movimento estudantil continuou sendo responsável por mobilizações e lutas pelos anos seguintes. Temas como o passe livre nos transportes, a meia entrada, a universalização do ensino e a ampliação dos investimentos na educação entre outros mantiveram-se presentes no quotidiano das entidades, com relativo grau de desmobilização somente verificado na ultima década. 

Como verificado ao longo do processo histórico, as mobilizações estudantis provocam ou são provocadas por situações diversas e muitas vezes, inusitadas das conjunturas pelas quais atravessam as sociedades. A juventude estudantil por sua vez sempre será, em qualquer tempo, elemento pulsante, construtor e ativamente atuante nos momentos de efervescência social e contestação popular, estando na linha de frente de suas e outras lutas.

(*) Jornalista e Historiador.