No dia 24 de setembro, o aclamado álbum Nervermind completa 30 anos de seu lançamento. Considerado a grande obra do Nirvana, o segundo disco de estúdio gravado pela banda liderada por Kurt Cobain rapidamente se tornou um fenômeno de vendas e, três décadas após seu debute, transformou-se em uma das grandes referências do rock em todos os tempos e um dos trabalhos musicais mais importantes da década de 1990. 

O SUCESSO de Nevermind é autêntico e merecido, ainda que surpreendente, pois o Nirvana não possuía, até aquele momento, uma carreira consolidada no ‘mainstream’. Com somente um álbum lançado (Bleach, de 1989) por uma gravadora pequena (a Sub Pop, de Seattle), o grupo era conhecido e respeitado no circuito alternativo, mas ainda estava distante da popularidade alcançada por bandas como o Guns ‘n’ Roses, Metallica e outros gigantes do rock da época. O trio, na verdade, só assinou contrato com a DGC Records (David Geffen Company) - um dos maiores selos musicais dos Estados Unidos - em 1990 após indicação dos membros do Sonic Youth, até então um dos principais expoentes do rock alternativo nos EUA e uma das grandes influências de Cobain e companhia. Ou seja, ninguém esperava que a obra daqueles três jovens adultos os catapultassem ao estrelato. Muito pelo contrário. 

Nas projeções da DGC, Nevermind já seria um grande SUCESSO se alcançasse a marca de 250 mil cópias vendidas, quantidade semelhante ao do disco “Goo”, do próprio Sonic Youth, lançado um ano antes. O que se viu, no entanto, foi um dos maiores fenômenos de vendas da história. O álbum não só bateu essa meta facilmente, em poucas semanas, como chegou a vender cerca de 400 mil cópias por semana no final daquele ano. E em janeiro de 1992, Nevermind chegou ao topo da Billboard 200 (lista que traz os discos mais vendidos nos EUA) desbancando ninguém menos do que o Rei do Pop, Michael Jackson e até hoje vendeu mais de 30 milhões de cópias no mundo. E os motivos para que o Nirvana se tornasse um grande acontecimento cultural são vários, a começar pelo talento da banda. 

Não, Kurt Cobain não era um guitarrista virtuoso como foi, por exemplo, seu quase conterrâneo Jimi Hendrix. E talvez esse seja seu grande trunfo. Mesmo usando riffs e acordes simples, ele conseguiu criar melodias e canções extraordinárias. O menos era mais para o líder da banda, assim como era para o baixista, Krist Novoselic. Grande amigo de Cobain desde a adolescência, o “gigante” de 2,01 metros fazia muito bem seu trabalho de, como ele mesmo disse, “servir à música”. Já o baterista Dave Grohl talvez fosse o grande talento da banda como músico. O hoje líder do Foo Fighters trouxe muito mais peso ao som do Nirvana, comparado com o competente trabalho de seu antecessor Chad Channing, e também encerrou um ciclo de trocas nas baquetas do grupo. 

A qualidade das músicas também é inquestionável. Nevermind tem hits como Smells Like Teen Spirit, In Bloom, Come As You Are e Lithium que não apenas foram SUCESSOS estrondosos, como popularizaram uma dinâmica muito explorada pelo Nirvana em suas canções, onde os versos calmos eram intercalados com refrãos viscerais e agressivos. Uma clara influência de bandas como o Pixies. Mas não era só isso. O disco também trouxe um encontro da atitude punk rock com o peso do hard rock e do heavy metal e algumas pitadas de voz e violão, mostrando as influências diversas de seus integrantes. Sem contar as letras que, segundo Kurt Cobain, não eram os pontos focais de suas músicas, mas que falavam (e ainda falam) diretamente ao jovem. 

E até mesmo a arte da capa do álbum tornou-se icônica. Quem nunca viu a foto do bebê pelado, nadando em uma piscina azul em direção a uma nota de um dólar? Uma crítica do grupo ao capitalismo que se transformou, aliás, motivo de um processo movido pelo próprio protagonista da foto, Spencer Elden, que acusa a banda de pornografia infantil e pede uma indenização milionária. 

A contribuição de Nevermind para o cenário musical no início dos anos 1990 é outro ponto crucial para a relevância do disco, pois foi junto ao seu êxito que outras bandas passaram a receber mais atenção, especialmente as que vinham de Seattle, mesma cidade onde o Nirvana estava baseado. O Pearl Jam, que havia lançado seu primeiro álbum, “Ten”, poucas semanas antes; o Soundgarden, que apresentou ao mundo “Badmotorfinger”, seu segundo trabalho, também no dia 24 de setembro; e o Alice In Chains, que lançou “Dirt” em 1992, rumaram ao estrelato na mesma esteira e popularizaram o estilo grunge, com suas vestimentas e comportamento característicos da região onde todos viviam. 

Aos 30 anos, o impacto de Nevermind ainda é relevante. O álbum, que ajudou a moldar um novo cenário onde o rock voltou a ser protagonista entre os jovens na década de 1990, está hoje entre os mais ouvidos nos serviços de streaming, segue influenciando uma série de artistas dos mais variados gêneros e ainda inspira meninas e meninos a pegarem suas guitarras e criar riffs e músicas. Um legado e tanto, que não deixa dúvidas sobre o quão importante é esse disco e o próprio Nirvana para a música mundial.