História & Memória: Nossa Mauá ontem e hoje

Mauá: ontem da porcelana, hoje e sempre do trabalho

Por Daniel Alcarria 29/03/2022 - 12:18 hs
História & Memória: Nossa Mauá ontem e hoje
Linha de produção na Porcelana Real, depois Schmidt SA. Empresa chegou exportar sua produção

Com o advento do sistema ferroviário e a implantação da estrada de ferro Santos-Jundiaí, a região que hoje conhecemos como ABCDMRR ganhou grande impulso em seu processo de desenvolvimento econômico e ocupação territorial; no caso de Mauá, outrora Pilar (a alteração do nome do distrito ocorreu em 1926), esse impulso teve inicio justamente quando da edificação da estação Pilar, inaugurada em 1883. A partir dai o pequeno distrito começou lentamente a mudar sua fisionomia.

Ainda na época em que o lugar era apenas passagem (e mesmo depois nos primeiros anos pós-inauguração da estação de Pilar), a economia local foi baseada unicamente no extrativismo vegetal. Posteriormente, da extração da lenha passou-se à extração das pedras e ao fabrico de tijolos através das olarias, feitas essas atividades em sua maioria por imigrantes italianos e seus descendentes que por aqui estabeleceram raízes. Abundante naquela época, a argila branca era muito comum em boa parte do solo e já a partir de meados da primeira década do século XX, alimentaria a promissora indústria da cerâmica, porcelana e louças que caracterizou a cidade como polo irradiador.


Porcelana: uma marca de Mauá           

 

Um dos pioneiros empreendimentos industriais de Mauá foi a Cerâmica Morelli, de Bernardo Morelli. Seu surgimento data de 1904 e no auge de sua produção abrigou mais de 70 operários, encerrando atividades doze anos depois, em 1916. A Cerâmica Morelli inaugurou um período de ouro na história da industrialização de Mauá, sendo seu patrono Bernardo Morelli responsável pela elaboração do que é considerado o primeiro plano de urbanização na cidade, o Centro Industrial do Pilar.

Registra-se em 1914 a instalação da empresa “Viúva Grande & Filhos”, a conhecida Fábrica Grande; marcada por pioneirismos, foi a primeira fábrica de louças a instalar-se na cidade. Especializada na produção de louças domésticas, adornos e material refratário em geral, alterou denominação até o fechamento em 1964. Foi chamada de Companhia Industrial do Pilar passando por João Jorge Figueiredo, Luso-Brasileira e Miranda Coelho, quando encerrou atividades.

Outras importantes empresas do ramo cerâmico cresceram junto com a cidade, casos da Fábrica de Louças de Pó de Pedras Paulistana (a Paulista), depois Cerâmica Mauá, a Porcelana Brasilusa, a Cerâmica Santa Helena, a Porcelana Mauá, a Cerâmica Cerqueira Leite (a maior empresa de isoladores na América do Sul nos anos 50) e a Porcelana Real (depois Porcelana Schmidt), cujos artigos exportados colocaram o nome de Mauá como “capital nacional da porcelana fina” nos anos 1960.


Porcelana Kojima e Porcelana Mizuno


As alterações ocorridas no perfil econômico da cidade atingiram a cadeia produtiva local, provocando a diversificação de suas atividades. Somados aos fatores externos, outras razões contribuíram para a diminuição das atividades ceramistas até quase sua supressão. Enquanto que no auge da atividade cerâmica dezenas de empresas compunham sua cadeia produtiva, hoje são conhecidas apenas duas remanescentes desse segmento industrial em Mauá: a Porcelana Mizuno, de 1956 e a Porcelana Kojima e Irmãos Cia Ltda, em atividade desde 1960, coincidentemente localizadas próximas uma da outra no bairro Feital e ambas capitaneadas por colonos japoneses.

Por mais que a produção da porcelana e dos materiais baseados no processo cerâmico tenha ficado como parte de um passado relativamente distante, é inegável a contribuição desse setor nos processos de desenvolvimento da cidade e que ainda hoje podem ser observados em nosso quotidiano. E em todos esses processos, é importante salientar a presença marcante dos trabalhadores que com sua mão de obra fizeram e ainda fazem girar as engrenagens do desenvolvimento de Mauá.