História & Memória: Nossa Mauá ontem e hoje

Casa Bandeirista, um símbolo de Mauá

Por Daniel Alcarria 25/05/2022 - 11:07 hs
História & Memória: Nossa Mauá ontem e hoje
Em destaque, a antiga sede da fazenda Bocaina, transformada em 1982 no Museu Barão de Mauá

Quem hoje observa uma cidade pujante, economicamente forte e diversificada, com uma população de quase meio milhão de habitantes, indústrias diversas, serviços, poluição e trânsito caótico, fica difícil imaginar que se trata da outrora bucólica e pacata Mauá, o antigo     Pilar; as fábricas de porcelana, o campo do Esporte Clube Cerâmica, a Concha Acústica, o Jardim Japonês, a Escola da Paineira, as porteiras do centro, a capela do Sertãozinho, as festas e bailes populares, o carnaval de rua e outros símbolos e representações mauaenses deram lugar ao moderno. Para os moradores mais antigos da cidade, ficaram apenas alguns exemplos de resistência, a memória e a saudade de um tempo e de uma época que não volta mais.

Grande parte desses patrimônios materiais e também os imateriais foram simplesmente derrubados, banidos, excluídos e/ou apagados, seja em razão da especulação imobiliária, dos interesses econômicos ou do descaso, mas suas memórias permanecem vivas no imaginário daqueles que presenciaram sua existência. E os poucos que sobreviveram, ainda hoje são ameaçados pelas mesmas razões elencadas acima, representando além de símbolos da cidade, modelos e exemplos de resistência política, econômica e cultural.

Origens e características técnicas

As origens do casarão que desde 1982 abriga o Museu Barão de Mauá remontam o início do século XVIII, sendo conforme observação de William Puntschart, ‘remanescente do período inicial da ocupação territorial de São Paulo e considerado, segundo estudiosos da história da arquitetura, importante exemplar de Casa Bandeirista ou colonial paulista’. Construída com um tipo de terra argilosa socada entre pranchões e com paredes de até sessenta centímetros de espessura, foi erigida numa técnica denominada de ‘taipa de pilão’.

A casa bandeirista de Mauá encontra-se num seleto conjunto que compreende as mais antigas edificações da região do ABC Paulista, sendo construída praticamente no mesmo período da capela de Nossa Senhora do Pilar (atual Pilar Velho, em Ribeirão Pires), considerada a mais velha. A capela foi erguida em 1714 e a casa, que inclusive devido às suas características arquitetônicas situa-se dentre as primeiras manifestações arquitetônicas brasileiras, surge nos primeiros anos do século XVIII, conforme citado.

 

Antes sede da fazenda e pousada, hoje Museu Barão de Mauá

 

O prédio que abriga o Museu Barão de Mauá é uma edificação de incontestável valor histórico-cultural, um símbolo de representação da identidade local; desde antes da ferrovia, a partir dela e ainda hoje também, aquele espaço possui grande significado na formação de Mauá desde tempos imemoriais, marcando dessa maneira sua presença e testemunho no surgir da cidade e em seus processos de desenvolvimento. 


Surgida em meio ao contexto da ocupação territorial da região pela metrópole portuguesa através da concessão de sesmarias, o casarão era sede de uma grande propriedade rural, no caso sede da Fazenda Bocaina. E como latifúndio, obedecia aos padrões escravistas da economia colonial, abrigando na época do tenente Francisco Barbosa Ortiz (seu primeiro proprietário) cerca de 35 escravos.


Em 1862, Irineu Evangelista de Souza, o ‘Barão de Mauá’ comprou do Capitão João a fazenda que abrigava o casarão; a aquisição dessa vasta quantidade de terras teve influência direta da instalação da estrada de ferro, empreendida por Irineu. As dificuldades para a construção da ferrovia exigiu em diversas oportunidades a presença do Barão de Mauá no canteiro de obras, levando-o a pousar algumas vezes no famoso casarão.


Após servir como sede da fazenda Bocaina e pousada do Barão de Mauá, a histórica casa-símbolo de Mauá foi desde moradia dos pioneiros moradores a sede de times de futebol como o Pilar FC e o Industrial; Em 1983 foi tombada como patrimônio pelo Condephaat estadual; antes, em novembro de 1982, fora transformada e batizada como ‘Museu Barão de Mauá’.           

 (*) Jornalista e Historiador.

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Referências bibliográficas:

MEDICI, Ademir. De Pilar a Mauá. Prefeitura do Município de Mauá, 1986.

PUNTSCHART, William. Histórico da Fazenda Bocaina. Prefeitura do Município de Mauá, 2000.

SALA, Dalton. Guia das Casas Bandeiristas. São Paulo: Laserprint, 2008.