Duas décadas de crescente abstenção e votos nulos em Mauá: onde está o erro – nas campanhas ou na conexão com o eleitor?

Por Portal Opinião Pública 31/10/2024 - 15:34 hs
Foto: Divulgação

Gerson Moura 

Cientista Político

Em Mauá, o número de eleitores que optam por se abster ou anular o voto cresce a cada eleição, levantando uma questão essencial: será que as campanhas estão falhando em seu papel ou o eleitor perdeu a confiança?

Neste artigo, convido você a uma reflexão e uma provocação sobre o papel das campanhas eleitorais e a necessidade de um alinhamento de comunicação que coloque o eleitor no centro da estratégia, e não apenas os adversários políticos. Após o término das eleições municipais, é essencial iniciarmos uma análise profunda sobre o que está levando tantos eleitores a se afastarem das urnas ou a anularem seus votos. Esse entendimento é fundamental não só para definir estratégias futuras, mas também para observar se os projetos apresentados realmente representam a maioria da população.

Em Mauá, nos últimos 20 anos, vimos um crescimento alarmante na taxa de abstenções, votos nulos e brancos. Em 2004, esses números somavam cerca de 52 mil eleitores. Em 2024, esse número saltou para 129 mil – um aumento de 148% em apenas seis eleições municipais. Esse cenário nos leva a um questionamento: a quem cabe a responsabilidade desse aumento? São as campanhas, com suas estratégias de polarização, ou o eleitor, que se sente desmotivado e descrente?

Historicamente, Mauá se destaca por campanhas acaloradas, onde propostas e ideias acabam sendo abafadas por embates e ataques. Nessa atmosfera de disputa intensa, o eleitor – que deveria ser o foco central – é muitas vezes esquecido. Mauá se tornou conhecida por suas campanhas “fora do comum”, onde acontecimentos inusitados, como prisões, impeachment e acusações severas, dominam os holofotes. A questão que se impõe é: será que essa tática constante de confronto e desgaste fortalece o interesse do eleitor em participar? Há, talvez, um indicativo de que essa abordagem esteja afastando o eleitor das urnas.

Em Recife, por exemplo, observamos uma realidade oposta. Em 2020, a taxa de abstenção foi de 21%, com brancos e nulos somando 12%. Quando João Campos (PSB) foi eleito no primeiro turno, a abstenção caiu para 19%, e os brancos e nulos para 5%. Esses números nos mostram que um modelo de campanha focado na comunicação direta e no compromisso com o eleitor pode ser uma chave para reverter esse afastamento.

As últimas crises políticas, especialmente no âmbito municipal, afetaram profundamente a credibilidade e a confiança da população na política local. Contudo, a responsabilidade de reconquistar o eleitor e trazê-lo para o centro da gestão pública é da própria classe política. Transformar essa realidade é possível – mas exige uma mudança de postura. Uma estratégia de reaproximação que reconstrua a confiança do eleitor e que o valorize como o verdadeiro objetivo do processo eleitoral é a chave para estancar essa crescente abstenção e os votos nulos.

Se Mauá deseja evitar que até 50% de sua população deixe de depositar sua confiança nas urnas em 2028, será necessária uma reformulação completa da maneira como as campanhas são conduzidas. Reconquistar o eleitor significa tratar o cidadão com respeito e integridade, oferecendo um diálogo honesto e promessas concretas. Afinal, o sucesso da política e o fortalecimento da democracia em Mauá exigem uma escolha clara e definitiva: as campanhas devem focar menos nos adversários e mais em conectar-se com o eleitor.