Historiador lança livro contando trajetória do primeiro título do Grêmio Mauaense

Por Portal Opinião Pública 19/11/2025 - 11:18 hs
Foto: Facebook / Reprodução
Historiador lança livro contando trajetória do primeiro título do Grêmio Mauaense
Daniel Alcarria fez extensa pesquisa para escrever o livro

O ano de 1985 foi histórico para o futebol de Mauá. Jogando a Série A3 do Campeonato Paulista, o Grêmio Esportivo Mauaense – então única equipe profissional da cidade – chegou a um feito impressionante ao derrotar o Mirassol e levantar a taça da competição, garantindo seu primeiro título profissional. Quarenta anos depois, a conquista ainda reverbera pelo município como um dos mais importantes capítulos da história esportiva mauaense.

E foi justamente usando esta efeméride que o historiador e jornalista Daniel Alcarria decidiu rememorar, no livro “1985 -  A História do Primeiro Título do Futebol Profissional de Mauá”, a trajetória daquela equipe. A obra será lançada no dia 28 de novembro em uma cerimônia, a partir das 18h30, no Centro de Formação de Professores Miguel Arraes, com homenagens aos jogadores da época.

Em entrevista ao Jornal Opinião Pública, Alcarria revela como foi o processo para a produção do livro, como essa conquista impactou o esporte mauaense e ainda deu detalhes sobre o lançamento da obra. 

Jornal Opinião Pública - Como que surgiu a ideia de você fazer um livro sobre a primeira conquista do Grêmio Mauaense? 

Daniel Alcarria – É a efeméride e a importância do resgate desta memória. Já se passaram 40 anos (da conquista) e acho que é importante para a cidade, para os esportistas de Mauá e para os torcedores, os amantes de futebol, a gente poder, de forma humilde, entregar um trabalho que rememora uma conquista que na minha modesta opinião, foi a mais importante não só do futebol, mas do esporte da cidade. Tudo era uma novidade, o Mauaense era um clube novo, era apenas a sua quarta participação num torneio oficial da federação paulista, a cidade nunca havia tido até o dia 15 de dezembro de 1982, um clube profissional e naquela época as pessoas se envolviam mais. E Mauá tinha acabado de inaugurar o estádio, já havia interesse dos desportistas em ter um clube profissional desde os anos 1970, houve a reorganização da liga. Então todos esses elementos acabaram culminando com essa importante conquista.

Inicialmente, a ideia era fazer uma revista, mas aí comecei a ouvir um amigo aqui, outro ali, fui estimulado por outras pessoas e acabamos construindo esse trabalho.  

JOP – E como foi colher todo o material para a produção do livro, falando com jogadores da época, dirigentes, torcedores? 

DA - Como pesquisador do futebol, como historiador tenho um acervo considerável de imagens, de documentos, de livros, de flâmulas, de jornais antigos de época sobre o futebol e a própria história da cidade. Então já tinha muita coisa acumulada de material para poder, especificamente, tratar da conquista de 1985. Mas como foi um trabalho mais específico, então utilizei o acervo que eu já tenho e fui literalmente a campo. Contatei praticamente todos os jogadores da época e fiz entrevistas.

A estrutura do livro até tem uma abordagem rápida da história do futebol na região do ABC, um breve histórico do desenvolvimento do futebol na cidade, desde o século XX até hoje, até culminar com as razões que levaram à fundação do clube.  Depois a gente entra especificamente no campeonato, fazendo um breve histórico do torneio, dos participantes dentre os quais tivemos times como o Mirassol, o Oeste de Itápolis e outros clubes conhecidos. 

Depois entro na parte dos jogos. Temos todas as fichas técnicas de todos os jogos. O recorte do livro, eu inicio da inauguração do estádio, passo todos os amistosos, preparatórios para o campeonato e sigo pelos jogos do campeonato até a decisão, ou seja, um recorte temporal que vai de dezembro de 1984 a março de 1986, com todas as fichas técnicas, escalação, dados estatísticos. E no caso do campeonato, eu faço um comentário jogo a jogo. 

Em outra parte do livro, faço um resumo biográfico de cada um dos atletas, comissão técnica e dos principais dirigentes e depois vem a parte de estatísticas dos jogos. 

JOP – Você ainda era uma criança quando o Grêmio Mauaense venceu aquele campeonato, mas acompanhou de perto os jogos. Como essa experiência e as lembranças acumuladas daquelas partidas te auxiliaram na composição desta obra? 

DA - Foi um incentivo a mais, porque você tem a lembrança. Graças a Deus meu pai e minha mãe são vivos e essa é uma forma de homenageá-los e também uma memória minha, afetiva daquele período muito importante e que coincidentemente, culminou em ser uma efeméride. E temos uma responsabilidade, a tarefa de resgate da história do esporte e da cidade, a reverência da memória em todos os aspectos, porque é aquela velha história, o ser humano que conhece a sua história, certamente está preparado e será um ser humano melhor para poder representar o presente. E o futuro.  

JOP – E Daniel, como foi o contato com os jogadores que participaram daquela conquista, com os torcedores que lembram dos jogos da época? 

DA - Não foi fácil, mas a recepção foi muito positiva. Eu não consegui contatar todos, tiveram dois jogadores que não consegui contato, mas eu já tinha algumas informações de jornais antigos e dos próprios colegas, então consegui construir a biografia deles. Alguns já são falecidos, são seis que já não estão entre nós, mas a ideia é homenagear os seus familiares. Mas foi um trabalho literalmente de campo de pesquisa, primeiro em casa com o material que eu tenho como fonte primária, e depois somando as fontes primárias com o registro oral, que é muito importante, porque não podemos colocar uma informação inverossímil, é necessário checar. Então todo depoimento verbal precisa ser checado junto aos documentos para que não haja contradição no texto, até porque já se vão 40 anos e as memórias vão se misturando. 

JOP - Em relação ao clube, o Grêmio apoiou a produção do livro? Qual a sua relação com os atuais dirigentes? 

DA – Tenho uma relação excelente com o presidente Reinaldo Rodrigues. E não houve objeção nenhuma, pelo contrário. A diretoria, o presidente Reinaldo, perceberam que isso é uma coisa que engrandece, coloca o clube em outro patamar. 

JOP - Sobre a noite de lançamento do livro, haverá uma homenagem aos jogadores que fizeram parte da equipe. Pode adiantar o que mais acontecerá nesta celebração?  

DA – Cada um dos 36 atletas que participaram da campanha receberá um exemplar do livro e serão homenageados com uma placa ofertada pela Câmara Municipal de Mauá. E como forma de você reaver essa identidade do esporte com a cidade, além dos atletas campeões em 1985, também faremos uma homenagem similar, com a entrega de um diploma para cada um dos meninos do sub-11 e do sub-13, que foram campeões de um torneio no centro de formação do Oscar Bernardi, em Águas de Lindóia, e as meninas que foram vice-campeãs da Taça Paulista Petrobras.  

JOP – E você poderia nos adiantar uma história ou um causo que está no livro? 

DA - Um dos capítulos que eu poderia nominar foi a Batalha de Jacareí, um jogo que o Mauaense perdia de 1 a 0, já válido pelo quadrangular da segunda fase em que só o campeão avançava para as finais estaduais. Pois bem, o Mauaense perdia por 1x0 e aos 20 e poucos do segundo tempo, um jogador do Jacareí marcou um gol de bicicleta. Mas o juiz, estranhamente, anulou o gol. Começou uma confusão, mas logo os ânimos voltaram ao normal. Porém, passaram alguns minutos e a torcida do Jacareí jogou um senhor tijolo no bandeirinha. O jogo parou, os jogadores do Grêmio saíram de campo e, em resumo, o jogo foi suspenso. Depois, na Federação Paulista, já que segundo algumas fontes o Mauaense era muito forte nos bastidores, o clube conseguiu a anulação daquele jogo. E detalhe, no próprio livro eu tenho a súmula do árbitro que relata tudo isso aqui que estou dizendo. O fato é que a Batalha do Jacareí foi terminar quase um mês depois, em Suzano, num jogo com portões fechados e que o Mauaense precisava ganhar para se classificar e ganhou por 1x0. E outro detalhe: novamente o jogo não terminou porque um dos atletas do Jacareí se recusou a sair de campo após uma expulsão, e o juiz deu por encerrada a partida, desta vez homologado o resultado favorável ao Mauaense, que depois foi disputar o triangular final com o Sanjoanense e o Serra Negra.