História & Memória: Nossa Mauá ontem e hoje

Associação Atlética Industrial: cem anos de história com Mauá - Parte 1

Por Daniel Alcarria 15/09/2021 - 09:14 hs
História & Memória: Nossa Mauá ontem e hoje
Operários da Companhia Industrial do Pilar em imagem do início dos anos 20

Na ocasião em que alcançamos a 100ª edição da Revista Sucesso, fato de grande relevância para a imprensa regional e significativo exemplo de resistência da mídia impressa em tempos de absoluto domínio das mídias virtuais, celebramos logo a seguir o aniversário de número cem de uma das mais importantes instituições do município de Mauá. O alvinegro mauaense surgiu na época que a cidade era um distrito de Santo André e seu nome, Pilar. 

A história da Associação Atlética industrial, fundada em 2 de outubro de 1919 e oficializada em 1º de outubro de 1921 no interior da pioneira fábrica de louças de Pilar, a “Fábrica Grande”, certamente se funde com a própria história da cidade de Mauá. Essa mesma fábrica, marcante para o processo de desenvolvimento local, ainda faria surgir mais dois clubes locais: o EC Cerâmica e o Vila João Jorge FC, o atual Juá. “Na verdade, o Industrial surgiu antes de 1921. Em 1919 já jogava futebol, mas não era um clube oficial. Era o time da “Fábrica Grande”, a única de louça de Pilar”.

Da Fábrica Grande, operários e jogadores - O clube Industrial foi inicialmente composto pelos trabalhadores dessa fábrica, inclusive seus primeiros jogadores; a empresa por sua vez estimulava os jogos de futebol, tendo inclusive decisiva participação não apenas quando do surgimento do clube, mas também em sua manutenção e desenvolvimento. O centenário clube alvinegro foi idealizado por Reinaldo Chiarotti e Manoel Pedro Junior, ambos trabalhadores na Fábrica Grande. 

Confirmando sua origem operária, a primeira diretoria do novo clube de futebol do Pilar foi composta dos seguintes nomes: Manoel Pedro Junior, presidente; José Mendes, vice-presidente; Armando Amarante, secretário-geral; Reinaldo Chiarotti, 1º secretário; Pery Falcão, 2º secretário; Domingos Fanelli, 1º tesoureiro; José de Almeida, 2º tesoureiro e Américo Castaldelli, diretor de esportes. 

Sua primeira sede foi a própria fábrica, onde seus primeiros associados realizavam atividades festivas e os jogadores se preparavam para os jogos; depois, o clube transferiu sua sede para o casarão onde hoje é o museu Barão de Mauá, conhecida a época como “Fazendinha”. No casarão, o Industrial curiosamente teve que dividir o espaço com seu primeiro grande rival, o Pilar FC, ficando os dois times ali sediados. 

O conjunto poliesportivo (considerado um dos maiores e melhor estruturados clubes da região do ABC) foi inaugurado em 27 de fevereiro de 1983, resultado da abnegação de sua diretoria e grande esforço dos associados; um ano depois (1984) seria a vez da entrega do primeiro ginásio de esportes do clube. A antiga sede da Rua Princesa Isabel, inaugurada em 1961, ficou como propriedade do clube até 1999.

O futebol do Industrial: orgulho dos mauaenses - Mesmo distante das disputas dos campeonatos amadores locais e com o time desativado há muito tempo, o Industrial nasceu como equipe de futebol, sendo o esporte bretão a sua vocação principal enquanto clube. Os pioneiros jogadores/trabalhadores a vestir a sempre tradicional camisa alvinegra foram Lindo Godoy, Jovino Rodrigues (o primeiro goleiro do time principal), Godofredo, José e João Batista Godoy, os irmãos Ernesto e Doratello Fortes, Pipinelo Matroni, José do Carmo e os irmãos Adolfo e Antonio Agnello, os irmãos João e Luiz Viola, João e Miguel Chiarotti e Francisco Torres. 

A primeira partida da história do clube foi logo o “clássico” contra o já estabelecido Pilar FC, numa peleja que estabeleceu a polêmica que perduraria décadas na rivalidade entre os dois clubes mauaenses (a história de que o Industrial teria “contratado” para aquele jogo atletas que atuavam pelo Flor do Ypiranga, da Capital). O histórico jogo, contra seu primeiro grande rival Pilar FC, vencido pelo Industrial por 3x0, foi realizado no campo da Fábrica Grande, do Industrial, onde hoje está instalado o SESI. 

Em 1933, o Industrial participou do primeiro campeonato promovido pela LEMS (Liga Esportiva Municipal Sambernardense), realizando porém, péssima campanha. Além de não comparecer à uma partida frente ao Audax, teria cometido durante a competição outras infrações desportivas, como retirada de campo, agressão contra a arbitragem, suspensão de seus jogadores e dentro de campo, goleadas sofridas, como os 7x0 para o Corinthians de Santo André.

Industrial no Campeonato Paulista do Interior - Em 1943, o Industrial participou do Campeonato Paulista do Interior, certame promovido pela Federação Paulista de Futebol (FPF). O alvinegro do Distrito de Mauá compôs o grupo da 26º região ao lado do Corinthians (Santo André), Juqueri (Franco da Rocha), Paulista (Guarulhos), União Tietê (Guarulhos), Ribeirão Pires, EC São Bernardo, Palestra de São Bernardo, São Caetano EC, Primeiro de Maio (Santo André), Piratininga (São Bernardo) e Democrata, também de São Bernardo. 

O campeonato do Interior de 1943 foi vencido pelo Noroeste de Bauru, que na decisão derrotou o tradicional Guarani, de Campinas em duas partidas realizadas no Pacaembu. Foi a primeira e única vez que uma equipe de Mauá participaria de torneio de tamanha envergadura como o campeonato do interior, fato que somente ocorreria novamente em 1982 com a presença do Grêmio Esportivo Mauaense, na Terceira Divisão de profissionais. 

Além dos tradicionais finalistas Noroeste e Guarani, outras equipes de renome do interior paulista se fizeram presentes nessa edição do campeonato: Mirassol, Internacional de Limeira, XV de Jaú, Ponte Preta, Mogi Mirim, Bragantino, Paulista de Jundiaí, Portuguesa Santista, Taubaté, XV de Piracicaba, São Bento e outros. 

Referências bibliográficas:

MAUÁ (SP). Corpos em Movimento: as práticas esportivas e de lazer em Mauá 1954-2004. Núcleo de História e Memória. Imprensa oficial do Estado, São Paulo, 2004.

MEDICI, Ademir. Industrial de Mauá e os campeonatos de futebol do Grande ABC. Bandeirantes Industrias Gráficas, 1997.