História & Memória: Nossa Mauá ontem e hoje
Associação Atlética Industrial: cem anos de história com Mauá - Parte 1
Na ocasião em que alcançamos a
100ª edição da Revista Sucesso, fato
de grande relevância para a imprensa regional e significativo exemplo de
resistência da mídia impressa em tempos de absoluto domínio das mídias
virtuais, celebramos logo a seguir o aniversário de número cem de uma das mais
importantes instituições do município de Mauá. O alvinegro mauaense surgiu na
época que a cidade era um distrito de Santo André e seu nome, Pilar.
A história da Associação
Atlética industrial, fundada em 2 de outubro de 1919 e oficializada em 1º de
outubro de 1921 no interior da pioneira fábrica de louças de Pilar, a “Fábrica
Grande”, certamente se funde com a própria história da cidade de Mauá. Essa
mesma fábrica, marcante para o processo de desenvolvimento local, ainda faria
surgir mais dois clubes locais: o EC Cerâmica e o Vila João Jorge FC, o atual
Juá. “Na verdade, o Industrial surgiu antes de 1921. Em 1919 já jogava futebol,
mas não era um clube oficial. Era o time da “Fábrica Grande”, a única de louça
de Pilar”.
Da Fábrica Grande, operários e jogadores - O clube Industrial foi
inicialmente composto pelos trabalhadores dessa fábrica, inclusive seus
primeiros jogadores; a empresa por sua vez estimulava os jogos de futebol,
tendo inclusive decisiva participação não apenas quando do surgimento do clube,
mas também em sua manutenção e desenvolvimento. O centenário clube alvinegro
foi idealizado por Reinaldo Chiarotti e Manoel Pedro Junior, ambos
trabalhadores na Fábrica Grande.
Confirmando sua origem
operária, a primeira diretoria do novo clube de futebol do Pilar foi composta
dos seguintes nomes: Manoel Pedro Junior, presidente; José Mendes,
vice-presidente; Armando Amarante, secretário-geral; Reinaldo Chiarotti, 1º
secretário; Pery Falcão, 2º secretário; Domingos Fanelli, 1º tesoureiro; José
de Almeida, 2º tesoureiro e Américo Castaldelli, diretor de esportes.
Sua primeira sede foi a própria
fábrica, onde seus primeiros associados realizavam atividades festivas e os
jogadores se preparavam para os jogos; depois, o clube transferiu sua sede para
o casarão onde hoje é o museu Barão de Mauá, conhecida a época como
“Fazendinha”. No casarão, o Industrial curiosamente teve que dividir o espaço
com seu primeiro grande rival, o Pilar FC, ficando os dois times ali sediados.
O conjunto poliesportivo
(considerado um dos maiores e melhor estruturados clubes da região do ABC) foi
inaugurado em 27 de fevereiro de 1983, resultado da abnegação de sua diretoria
e grande esforço dos associados; um ano depois (1984) seria a vez da entrega do
primeiro ginásio de esportes do clube. A antiga sede da Rua Princesa Isabel,
inaugurada em 1961, ficou como propriedade do clube até 1999.
O futebol do Industrial: orgulho dos mauaenses - Mesmo distante das
disputas dos campeonatos amadores locais e com o time desativado há muito
tempo, o Industrial nasceu como equipe de futebol, sendo o esporte bretão a sua
vocação principal enquanto clube. Os pioneiros jogadores/trabalhadores a vestir
a sempre tradicional camisa alvinegra foram Lindo Godoy, Jovino Rodrigues (o
primeiro goleiro do time principal), Godofredo, José e João Batista Godoy, os
irmãos Ernesto e Doratello Fortes, Pipinelo Matroni, José do Carmo e os irmãos
Adolfo e Antonio Agnello, os irmãos João e Luiz Viola, João e Miguel Chiarotti
e Francisco Torres.
A primeira partida da história
do clube foi logo o “clássico” contra o já estabelecido Pilar FC, numa peleja que
estabeleceu a polêmica que perduraria décadas na rivalidade entre os dois
clubes mauaenses (a história de que o Industrial teria “contratado” para aquele
jogo atletas que atuavam pelo Flor do Ypiranga, da Capital). O histórico jogo,
contra seu primeiro grande rival Pilar FC, vencido pelo Industrial por 3x0, foi
realizado no campo da Fábrica Grande, do Industrial, onde hoje está instalado o
SESI.
Em 1933, o Industrial
participou do primeiro campeonato promovido pela LEMS (Liga Esportiva Municipal
Sambernardense), realizando porém, péssima campanha. Além de não comparecer à
uma partida frente ao Audax, teria cometido durante a competição outras
infrações desportivas, como retirada de campo, agressão contra a arbitragem,
suspensão de seus jogadores e dentro de campo, goleadas sofridas, como os 7x0
para o Corinthians de Santo André.
Industrial no Campeonato Paulista do Interior - Em 1943, o
Industrial participou do Campeonato Paulista do Interior, certame promovido
pela Federação Paulista de Futebol (FPF). O alvinegro do Distrito de Mauá
compôs o grupo da 26º região ao lado do Corinthians (Santo André), Juqueri
(Franco da Rocha), Paulista (Guarulhos), União Tietê (Guarulhos), Ribeirão
Pires, EC São Bernardo, Palestra de São Bernardo, São Caetano EC, Primeiro de
Maio (Santo André), Piratininga (São Bernardo) e Democrata, também de São
Bernardo.
O campeonato do Interior de
1943 foi vencido pelo Noroeste de Bauru, que na decisão derrotou o tradicional
Guarani, de Campinas em duas partidas realizadas no Pacaembu. Foi a primeira e
única vez que uma equipe de Mauá participaria de torneio de tamanha envergadura
como o campeonato do interior, fato que somente ocorreria novamente em 1982 com
a presença do Grêmio Esportivo Mauaense, na Terceira Divisão de profissionais.
Além dos tradicionais
finalistas Noroeste e Guarani, outras equipes de renome do interior paulista se
fizeram presentes nessa edição do campeonato: Mirassol, Internacional de
Limeira, XV de Jaú, Ponte Preta, Mogi Mirim, Bragantino, Paulista de Jundiaí, Portuguesa
Santista, Taubaté, XV de Piracicaba, São Bento e outros.
Referências bibliográficas:
MAUÁ
(SP). Corpos em Movimento: as práticas esportivas e de lazer em Mauá 1954-2004.
Núcleo de História e Memória. Imprensa oficial do Estado, São Paulo, 2004.
MEDICI, Ademir. Industrial de Mauá e os campeonatos de futebol do Grande ABC. Bandeirantes Industrias Gráficas, 1997.
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