Nossa Mauá ontem e hoje

22 de novembro de 1953: os 70 anos da data que elevou Mauá à condição de município

Por Daniel Alcarria 17/10/2023 - 11:23 hs

Por Daniel Alcarria - Jornalista, historiador, membro do Memofut (Grupo Literatura e Memória do Futebol Brasileiro). Autor do Almanaque do Futebol de Ribeirão Pires e do Almanaque Histórico do Grêmio Esportivo Mauaense. É atualmente secretário-adjunto de Esportes e Lazer da Prefeitura de Mauá.

Nome de uma das principais praças localizadas no centro da cidade, talvez poucos habitantes de Mauá tenham conhecimento da importância do dia 22 de novembro para o município. Foi nesta data que o povo do então distrito (Mauá era uma espécie de ‘bairro’ de Santo André) foi às urnas para decidir, através de escrutínio, seu destino enquanto território independente. Naquele distante 22 de novembro de 1953, domingo, 658 eleitores disseram ‘Sim’ à emancipação, sete votaram contra e foram registrados apenas cinco votos considerados nulos e em branco.

As manifestações emancipacionistas já eram sentidas por Mauá desde o início dos anos 40, quando impulsionadas por movimentos vitoriosos em São Bernardo do Campo (1944) e São Caetano do Sul (1948), viu crescer na sociedade local um desejo cada vez mais efetivo pela separação junto a Santo André. Curiosamente, as ações de Mauá também estimularam a vizinha Ribeirão Pires por sua independência, cujo plebiscito também ocorrera na mesma data que o de Mauá.

Antecedentes da emancipação

Com o crescente desejo emancipacionista tomando corpo, surgiram no período dois importantes instrumentos para o fortalecimento da causa: a Sociedade Amigos do Distrito de Mauá e o jornal Folha de Mauá. A primeira reunia parte da população e agregava as principais lideranças autonomistas, dentre eles destacados jornalistas, advogados, empresários, desportistas e claro, políticos. Fundada no ano de 1946 (em data não conhecida), a Sociedade Amigos do Distrito de Mauá tinha como objetivo primeiro a ‘defesa dos interesses do Distrito em geral e dos seus habitantes em particular’.

A entidade não tinha, portanto, como causa principal, a emancipação do distrito, apenas lutar por melhorias no território local, como calçamentos, iluminação pública, aumento das linhas de ônibus, diminuição dos intervalos dos trens vindos de São Paulo entre outras reivindicações menores. Mesmo sem deixar transparecer seus objetivos, a Sociedade Amigos do Distrito de Mauá teve importância fundamental para o êxito da emancipação.

Outro elemento catalisador do movimento pela independência do distrito foi o jornal ‘Folha de Mauá’, justamente o órgão informativo da Sociedade Amigos. Considerado o pioneiro jornal local, o folhetim era distribuído gratuitamente a cada 15 dias e seu surgimento teria ocorrido no interior da fábrica de cerâmicas Cerqueira Leite. A data provável da fundação do periódico foi 1949 e funcionou como uma ‘voz’ das reivindicações de Mauá, sendo o jornal decisivo para a vitória do movimento emancipacionista.

O jornal tinha como proprietário e diretor Anselmo Haraldt Walendy, um ativo membro da Comissão Pró-Emancipação, criada em outubro de 1951. O grupo teve Egmont Fink como seu presidente e Manoel Pedro Júnior, vice. Os demais participantes da Comissão Pró-Emancipação de Mauá foram José Figueiredo, Ariocy Rodrigues Costa, Rinaldo Chiarotto, Tercilio Tamagnini, Harry Horst Walendy, Emílio Romeu, Inocêncio Pedro, Sokiti Nakandakare, Orlando Cirilo, Francisco Lopes Gimenes, Anselmo Walendy, André Binoto, Nélson Chiarotto, Leopoldo Mantovani, Rubens Durval Antico, Luiz Novi e Norival Alves dos Santos.

Emancipação e instalação do município

Após intensa mobilização popular e o crescente fortalecimento da causa, enfim o distrito, através da Comissão Pró-Emancipação de Mauá, faz chegar representação documentada à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, solicitando a realização de um plebiscito. O pedido foi entregue em 30 de abril de 1953, sendo aprovado pelos deputados estaduais, que também definiram a data para a realização do sufrágio emancipatório.

A luta final pela emancipação durou mais algum tempo após o dia 22 de novembro de 1953. A oficialização do ato bem como a homologação do plebiscito se deu através da promulgação da Lei 2.456, de 30 de dezembro de 1953, que elevou oficialmente Mauá a condição de município autônomo. Por sua vez, a instalação oficial da cidade se deu em 1º de janeiro de 1955, quando foram empossados Ennio Brancalion e Elio Bernardi (respectivamente prefeito e vice) e mais 13 vereadores, tendo o ex-soldado constitucionalista de 32, Jorge Paschoalick, como o primeiro presidente do legislativo.

A data em que o município de Mauá comemora seu aniversário (8 de dezembro) foi consagrada, mesmo antes de sua autonomia, como uma homenagem à padroeira católica da cidade, Nossa Senhora da Imaculada Conceição. Mas o 22 de novembro certamente é a data mais significativa para a existência autônoma deste grande município que, infelizmente, pouco (ou quase nada) cultua em homenagem a tal grande fato e seus idealizadores.

“Cidadãos de comunidades que já usufruem as vantagens de uma autonomia raramente têm a oportunidade de compulsar ou avaliar o quanto representa essa liberdade para os seus conterrâneos. A liberdade é um bem imaterial que só pode ser medido com sua própria medida; não a medimos em litros ou em quilos e não há vasilha capaz de a conter. Em geral, somente a ausência de liberdade é que nos permite avaliar o seu valor. Pôde o povo desta terra ver realizado o seu sonho”.

Egmont Fink – Presidente da Comissão Pró-Emancipação de Mauá

Bibliografia consultada

FOLHA DE MAUÁ. Mauá: Sociedade Amigos do Distrito de Mauá, [nºs Diversos 1949-1969]-, Quinzenal.

MÉDICI, Ademir. De Pilar a Mauá. Mauá: Prefeitura de Mauá - Fundo de Apoio a Cultura, 1986.